quarta-feira, 27 de maio de 2009

FLOR FLUTUANTE

Recordo três borboletas:
Uma azul, que morava na boca do ar de verão;
Uma pintada, que bailava serena na cor da imensidão.

A outra era crua.
Gritava sua luz na escuridão.
Não sabia voar.
Não sabia brincar e
nunca se analisou.
Morreu de manhã,
num jardim de ilusão...

...

...Na sombra de um dia, ressuscitou.
Uma feliz lagarta virou!
É uma linda lagarta:
Mansinha, morena, macia.

Ainda não sabe voar,
mas agora canta baixinho e
baila morosa;
Brinca dengando em sua fantasia cremosa.

Seu desejo,
que grita nu em seu peito,
exala sua verdade
que a ensina a chorar...

Suas lágrimas, bailarinas,
penetram na terra e
mágicas se fazem ao brotar:
Eis que surge uma Flor que flutua,
provando a Lua
e o sabor do sonhar!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O Medo de Amar é o Medo de Ser Livre...

O título deste artigo, o mesmo que da linda canção de Beto Guedes, nos põe diante algumas palavras interessantes: Medo. Amar. Ser. Liberdade.

Todos os dias, de alguma maneira, acordamos ou somos acordados pela vida.
Mas há momentos em que não queremos abrir os olhos e ver o Sol. Temos Medo. Medo do mundo, da violência, dos gritos, dos silêncios e das faltas. Medos de si. Medos do Eu.
Ok, mas qual é o problema?
Quem disse que não podemos ter medos?

Já moramos na Infância. Talvez lá, naquelas casas, naqueles berços, tenhamos sido alimentados e amados. Mas hoje as moradias antigas nada são além de ruínas. Precisamos de outros lugares...

Para suportar a vida, fazemos algumas renúncias e recusas. Muitas vezes renunciamos ao amor pelo medo de vê-lo desmoronar... como aquelas casas. Aí, opta-se pelas ruínas antigas que ainda existem nos porões dos sonhos, mas que não mais nos protege do frio. Apenas nos cega diante do Sol. Diante do novo e da vida.

O tempo passa. Crescemos. Não deveríamos recusar o Presente. Não deveríamos temer o envelhecer. O Presente é o novo. É o teto a ser construído. É o tijolo a ser posto e pintado. É o chão com flores para fazer amor...
Mas o Presente é também a falta. A falta do passado. Daquelas paisagens. Daquelas pessoas. Daquelas casas...

Há que debruçarmos à janela com os olhos acesos e esperar em silêncio o sol teso acordar... E com a luz de seus acordes penetrar nas novas moradas que se erguem quando o amor nos faz semente ao luar.

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sexta-feira, 15 de maio de 2009

A FALTA QUE AMA

O grande poeta brasileiro Carlos Drummond, em um de seus brilhantes poemas de nome usado no título desse artigo, conclui que no solo tudo voltaria ser semente quando o sentimento da falta virar verbo de amar. Verbo, ou seja, ação, ato de amor.

O psicanalista francês Jacques Lacan foi preciso ao dizer sobre o amor: “amar é dar o que não se tem”. Em outras palavras, amar seria dar aquilo que nos falta. Mas vejamos: não exatamente um bem material. Amar seria dar os nossos próprios sonhos, nossos mais profundos e legítimos sentimentos que não haveriam de existir se não fosse o amor. E dar não necessariamente a alguém, mas sim dar-se num ato de reconhecer nosso mais puro desejo. Mas para reconhecer nosso verdadeiro desejo seria importante descobrir e assumir o que nos falta. Há pessoas que se negam durante toda a vida e muitas só descobrem isso fazendo psicanálise. E então percebem o quanto tempo perderam negando o próprio desejo. Aí, descobre que o que falta é a juventude. Mas tudo bem, o problema seria morrer sem descobrir a condição de desejante. O tempo passado não voltaria, mas o que resta passaria a ter muito mais sentido. Como disse o Drummond no poema, no ato de amar tudo tornaria a ser semente.

Para buscar uma vida mais plena, deveríamos descobrir a arte de amar. Como o poeta, que mesmo diante do papel ainda em branco, num sublime ato de amor, já oferta à amada o poema que ainda não escreveu.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

RECEITA DE PSICANALISTA

Como poderíamos definir de forma clara e precisa a palavra: Psicanalista? Como um substantivo ou adjetivo Simples. Se interpretarmos o significado por um dicionário da Língua Portuguesa, o psicanalista é aquele que possibilita trazer ao céu da consciência a raiz dos sentimentos plantados no fértil solo do inconsciente. Entretanto, se simplesmente mudássemos um pouco tal indagação, poderíamos cair em um profundo abismo de complexas dúvidas que provavelmente dariam uma rasteira em nosso interesse de continuar pensando em tal solução: Como poderíamos definir de forma clara e precisa a substância desse profissional que propõe pensar a doce natureza dos sentimentos humanos?

A princípio, realmente poderia ser desinteressante perder alguns minutos de nosso valioso tempo de vida em busca de tal resposta se a compreendêssemos como única e objetiva. Mas talvez se concebêssemos tal réplica como algo ‘irrespondível’, estaríamos na trilha certa rumo ao descobrimento de nosso objetivo em questão: Como definir a substância do psicanalista?
Imaginemos uma receita de bolo de chocolate, onde a mistura e união de vários ingredientes comporiam um prazer tão absoluto em nossa língua que nos faria esquecer dos mais desprazeirosos obstáculos que barrassem a plenitude de nossa almejada felicidade. Antes de tudo, precisaríamos agraciar a nossa bondosa Mãe natureza todos os presentes ingredientes de nossa sobremesa em questão, desde aquela pitadinha de sal até a magnitude existência de nosso amado Cacau.
Mas vamos deixar as calorias escondidas em baixo da mesa e voltar à nossa já divertida pergunta inicial: Como definir o que é o tal psicanalista? Quais são os ingredientes que o compõe?
Infinitos. Mas alguns principais facilmente descritos: muitas páginas de livros ardorosamente estudadas; profundo amor ao ofício; uma certa pitada de talento; um bocado de sincera humildade para consigo ao perceber as próprias imperfeições e uma incessante busca de compreender a natureza do sofrimento e do gozo da misteriosa e divina Alma Humana. Depois de tudo isso misturado e posto na fôrma de um corpo, espera-se infinitos e apaixonados minutos maturando como paciente no refrescante forno do divã de seu próprio analista.
Um minuto! De forma alguma não podemos esquecer do elemento principal de tal produção ‘culturalinária’, que certamente corresponderia ao chocolate do nosso bolo: a História de sua própria vida.
Mesmo sem responder objetivamente a nossa pergunta inicial, pudemos pensar um pouco sobre essa complexa e natural substância que compõe o ´Cientista da Alma`. E se pegássemos o ingrediente principal desse legítimo profissional, veríamos sua singular e inconfundível presença em todos os seres humanos. Principalmente aqueles de já mais idade que muita cousa tem a contar: Todos os que vivem ou já viveram, foram totalmente donos e responsáveis pela História de sua própria Vida.

Convido então todos os Seres humanos a um objetivo final: Chegar à Quarta Idade sem sofrer da Saudade da antiga existência!