quinta-feira, 9 de julho de 2009

AS PRÁTICAS ‘PSI’


Vivemos um momento histórico particularmente interessante no que se refere às “PRÁTICAS PSI”. Curioso, pois já as praticamos incessantemente. Complicado, porque as usamos mas ainda não as entendemos nem as definimos e sempre as confundimos. Ainda não precisamos entender tanto sobre elas. Isso cabe especificamente aos profissionais da área. Assim como não necessitamos entender sobre arquiteturas e engenharias para morar em um prédio, nem sobre mecânica para dirigir um carro. No entanto, poderíamos, neste momento de início milenar, ter a ciência sobre essas áreas do saber. Ciência no sentido de estarmos cientes. Mas será que já estamos cientes e saberíamos definir e discernir as ‘PRÁTICAS PSI’?

Mantendo aqui uma uma compreensão simples e fundamentada, podemos pensar e definir como ‘PRÁTICAS PSI’ três diferentes corpos de saber e áreas de atuação profissional. São elas a PSIcologia, a PSIquiatria e a PSIcanálise. Respectivamente, seus profissionais são o PSIcólogo, o médico e o PSIcanalista. Cabe lembrar que ‘PSI’ é uma letra do alfabeto grego, que em nossa língua compõe a palavra ‘PSIQUE’ que significa ‘ALMA’. Isso nos leva a considerar ‘as ciências da alma’.

A PSIcologia (estudo da alma) todo mundo usa, fala sem pensar, mas ninguém sabe exatamente o que é. Se realmente soubessem, os profissionais da Psicologia certamente seriam ainda mais disputados, consultados e melhor destacados no mercado. Tal procura se daria por suas infinitas habilidades, possibilidades e êxitos de atuação. Entretanto, ainda não é o que acontece. Até porque muita gente erroneamente ‘se acha’ psicólogo e tende a dar ‘explicações psicológicas’ para tudo, mesmo sem nunca ter feito uma faculdade de Psicologia, que é uma graduação acadêmica longa, custosa e difícil de ser percorrida.
Ser Psicólogo está muito além de ser Alma. A própria Alma é apenas o instrumento, a bússola do Psicólogo, que pode trabalhar em qualquer lugar onde existam outras almas e relações humanas, sendo, sobretudo, um `educa-dor`. Assim, felizmente vemos em nosso momento um sério e estruturado trabalho da Psicologia se desenvolver, expandir e consolidar nas escolas, nas empresas, nos hospitais, nas maternidades, nos consultórios (PSIcoterapia), nos esportes, nas políticas e principalmente nas comunidades e no terceiro setor.

A PSIquiatria nada tem a ver com a PSIcologia. Quando sérias, podem trabalhar bem de mãos dadas. Mas são muito diferentes. A PSIquiatria é um ramo, uma especialidade dentro da Medicina. Qualquer pessoa, quando adoece, procura um médico. Se a doença é no pulmão, vai ao Pneumologista. No coração, ao Cardiologista. O PSIquiatra é o médico que estuda e trata o órgão químico cerebral, suas complicações e disfunções nervosas (fibrosas) e doenças, que muitas vezes podem interferir ou invalidar comportamentos e pensamentos, bem como todo um bem-estar físico. Aqui se faz muita confusão.
É um grande erro pensar que o médico atual dará conta das questões da alma. Teríamos aqui uma faceta de cunho orgânico. Daí, o uso de remédios, drogas psiquiátricas. Procurar o médico buscando cura para angústias e sofrimentos da alma poderia ser o mesmo que ir ao Cardiologista querendo curar-se das paixões do coração.
Ressalta-se que muitos médicos dedicam-se ao tratamento psicoterápico, especializando-se na cura pela palavra. O Próprio Dr. Freud veio da medicina. Mas neste ponto acaba havendo um distanciamento das medicações. Assim como a Psicologia, a Medicina é apenas uma faculdade. E aí pulamos...

Agora estamos na PSIcanálise. Aqui, lidamos é com o PSIcanalista, um profissional de longa, complexa e competente formação que pressupõe muitos percursos além de uma simples faculdade ou graduação acadêmica. Aqui sim, pela via única da palavra, lida-se com as questões existenciais da alma, com os desejos, angústias, gozos, sofrimentos, sonhos, paixões, amores, temores, prazeres e alegrias.
Hã pouco mais de cem anos atrás, antes das guerras, um senhor vienense chamado Sigmund Freud descobriu e buscou formalizar a noção de ‘INCONSCIENTE’. Um importante ‘Lugar da Alma’. Nasce então a PSICANÁLISE. Uma descoberta que mudou para sempre os rumos da humanidade...
Nesses cem anos a PSIcanálise, atravessando a vida cotidiana e se desdobrando pela Cultura, se desenvolveu muito. São três, sucessivamente, os importantes nomes e momentos da PSIcanálise: Freud, o pai, que a criou; a inglesa Melanie Klein, que desenvolveu uma psicanálise para as crianças através do brincar; e o francês Jacques Lacan, que ampliou a noção do Inconsciente, permitindo uma prática psicanalítica mais eficaz e moderna aos tempos atuais.
Fazer uma PSIcanálise é praticar-se, é experimentar-se e saborear-se através das próprias palavras.
Infelizmente, aqui no Brasil a PSIcanálise é uma prática onde o acesso ainda é elitizado, assim como à Cultura, Saúde e Educação. Apenas algumas pessoas têm condições sociais, culturais, intelectuais e econômicas para buscar e desfrutar a própria singularidade confortavelmente deitada em um divã.

Entretanto, os dias passam e as portas sempre se abrem para todas as almas...

Fabio Nunes martins da Costa

quinta-feira, 2 de julho de 2009

VASO VAZIO


Junte as partículas do si-mesmo,
Remontando-se ao avesso.
Ponha as flores para dentro e as sementes para fora,
Retorcendo a lógica da palavra salgada
Que pousa e flutua no doce vazio.

As palavras,
Tijolos e muros do si-mesmo
Absorvem parindo a possibilidade da alma,
Pulsando em retração.

O vaso está vazio,
Sem flores,
Pois as sementes estão mortas.

O tempo futuro se sufoca
No tempo passado.
Futuro desmontado pela nova possibilidade de remontar o passado...
Passado renovado pela nova possibilidade de revogar...

E assim,
Sob o caule da lógica faltante,
Há que se esgarçar nos galhos da vida,
Como macaco molhado,
Faminto e sedento..
À procura do nada.